E ela que não espera nada é surpreendida com flores e a promessa de um jantar.
Ela que nada pedia, só companhia queria, foi contente se arrumar.
Tomou um banho, passou batom, vestiu roupa bonita e danou a sorrir. Era seu dia, noite de alegria, só deles, só de dois, só pra namorar. Enquanto lutava com o fecho da pulseira pensava "não preciso de outras duas mãos pra fechar, mas se precisasse, eu as teria aqui agora... "
Ele sugeriu teatro, ela aceitou mas não entendeu. Só queria o jantar, a surpresa que ele prometeu. Telefone toca, a cara amarrada, e ela que nem havia feito nada, foi o alvo de um novo estranho humor. Tempo passa e a cara se fecha. As pernas dela em movimento, que um dia foram objeto de graça, hoje ele achou um irritante incomodo e desalento. Tudo nela o irritava, desde os pés até a energia e o sorrir. Pisca os olhos, abaixa a cabeça, ela já não lhe importa. Ele, o humbigo dele e sua irritação.
A noite dela já não é de graça... Engole o choro, sustenta uma farsa. Ela rima as palavras pra não ter que invejar o casal da mesa ao lado que conversa, namora, sorri.
Em casa se fecha, se joga no colchão, dorme e ronca sem lembrar de nada, nem de dar um beijo, um boa noite, um carinho naquela que de todos é ela, quem lhe cuida e lhe estende a mão.
Ela no quarto, chora a noite de horror, o sonho perdido, o encanto que passou. Enquanto mexe no fecho da pulseira, agora deseja ter ali: aquelas duas mãos para ajudar a abrir, aqueles olhos que um dia a amaram, aquela presença que se fazia sentir.
Deita, cala, espera a dor passar. Se enrola no travesseiro, abraça a pelúcia nova e chora... E seu coração? Agora só deseja mais tempo para ter certeza, mais tempo para não falhar na escolha. Mais tempo para ter certeza absoluta que é esse que merece receber o seu brilhar.