Manchinha andava livre por aí. Não era sempre feliz, mas também não era triste.
Ela era amarela, mas de um amarelo tão vivo que tinha graça!
Meio sem formas definidas, Manchinha voava solta e encaixava muito bem em qualquer lugar, embora não se deixasse "encaixar".
Um dia encontrou um pedaço de pano, era de um azul escuro, meio sério e um pouco bobo também. Assim que viu Manchinha se iluminou, tentou tocá-la instantaneamente e trazê-la mais para perto de si. Ela era meio medrosa, já tinham jogado lama nela muitas vezes antes. Foi se aproximando aos pouquinhos e se deixando misturar por aquela nova cor. O pano azul ficou encantado com a liberdade daquela pequena manchinha, tão frágil, tão solta, tão pequenina, mas que lhe fazia imensamente feliz. Ele a levava para todos os cantos e expunha feliz aquele pequeno brilho amarelo que habitava seu ser. Já não era azul, nem ela amarela, juntos eram verde, eram um.
Hoje era um dia de festa no mundo do Azul. Seus amigos tecidos iriam festejar mais um novo amaciante! Manchinha ficou animada pois adorava festas, ainda mais com seu amor. Eles não costumavam ir em tantas festas juntos, no mundo dele, ela era só uma mancha e ele um tecido bem alinhado. Manchinha percebeu que Azul estava um pouco inquieto. Ele não sabia como carregar sua pequena Manchinha e fazê-la dar de cara com uma situação diferente e talvez, desconfortável também. Lá teria água, sabão em pó, em barra, escovas, alvejante, tira bolinhas e também tira manchas. E ele diferente de todos, ao invés de tirar, quis uma mancha só para ele, quem entenderia isso? Estava decidido, Manchinha teria que ir numa caixa, como uma barreira de proteção sabe? Ela se espremeu dentro da caixa amiga velha de guerra, subiu no salto e lá foram eles lavar roupa suja com bolhas de sabão. A cada passo Manchinha diminuía, estava escorregadia e sufocando. Não se sentia bem vinda e nem desejada, e pela primeira vez na vida, se deu conta de que era apenas uma mancha, e que não importa o quanto brilhasse e fosse alegre, ela era uma mancha, sempre seria uma mancha. Manchinha arrancou a caixa de uma vez e jogou os sapatos para o alto "Quer saber? Se sou essa "mancha" toda, porque não taca Vanish em mim?".
E assim ela se foi, do jeito que veio, do jeito que era, uma manchinha amarela, que não era feliz, mas também não era triste, mas que era ELA! Uma manchinha amarela, tão viva que tinha graça, muita graça!
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