segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Passagem

 Teus pés ainda estão molhados da noite que sobreviveu, ela nem sabe como. Com o olhar marejado ela fita o horizonte perdida em seus pensamentos que a levam para longe, para um lugar que nunca mais existirá, ela sequer sabe se realmente um dia existiu.
 Encolhida sobre a cama de madeira, se mantém imóvel, pretende se unir a ela em uma simbiose imperfeita, mas satisfatória. Não pisca, não respira, não lamenta. Chora menina, pode chorar, o passado realmente passou por você sem piedade e a visa modificou todo o resto. Você teve a sorte de viver no meio do turbilhão, ou não. Mas deixa lavar a alma que encantou, deixa passar a morte que você venceu. A lágrima carrega um gosto salgado que pode lhe render bons ventos. Então chora, porque aquilo que passou não voltará, talvez nem tenha mesmo sido real, então pisca as pestanas pesadas e deixa cair as ciscos que incomodam tanto.
 Mindinho, anular, médio, indicador e polegar, estão todos aí, esperando apenas um comando para pegarem o que você quer, ou o que precisa, ou qualquer coisa só para te aproximar de qualquer coisa que esteja por aí.
 Sorria mesmo que o riso saia frouxo, e chora mesmo que te cegue por alguns instantes. Depois que isso passar, porque acredite, isso vai passar, então... Não tem então, apenas passará, como tudo que já se foi e então... Terás três pontinhos no fim das suas frases para completares como bem quiser.

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