São 12:59, seus olhos acompanham cada movimento do ponteiro do relógio até que ele dê sua volta completa, parece que passam dias, mas não bate 13 horas!
São 13:00, ela arruma suas coisas, põe a mochila nas costas, marca seu horário de saída e corre rua afora ansiando pela tarde que virá. Toma o ônibus, coloca seus fones de ouvido, nesse momento tudo que deseja é se desligar do mundo, sonhar com momentos bons e sorrir. Chega no seu ponto, é dia de feira, decide que hoje seu almoço será um pastel sabor pizza e meio litro de caldo de cana puro. Aproveita para olhar as outras barracas em volta, resolve comprar uns biscoitinhos que lhe parecem saborosos e vai para casa. Come o pastel, guarda metade do caldo de cana para mais tarde.
Liga o som, hoje, Ana Carolina é quem vai embalar o seu banho. Vai para o chuveiro, está frio, mas logo o vapor da água quente toma o ambiente e fica mais fácil ficar ali. Deixa a água escorrer por seu corpo, não tem pressa para se ensaboar, enquanto lava os cabelos pensa na vida, em tudo que tem acontecido de bom e de ruim, lembra de momentos bons e começa a ficar ansiosa por outros momentos iguais. Pensa no seu amor e sorri ao constatar que logo estará em seus braços.
Termina seu banho, troca de roupa e seca o cabelo, é melhor deixá-lo ajeitado de uma vez, está muito frio para deixar secar naturalmente. São 15:00, ainda é cedo, dá tempo de ir no salão da esquina fazer as unhas.
Decide fazer os pés e as mãos, já que está ali mesmo, que faça tudo de uma vez. Enquanto levanta as barras da calça percebe que estava com o chinelo errado, sua mania de usar o chinelo dele dentro de casa, acabou indo com eles para rua... Acha graça e tira uma foto, resolve enviar para ele, pensa que é algo bobo para rirem juntos mais tarde. O tempo passa, ela mantém um fone em um dos ouvidos, com músicas de diversos estilos tocando, o outro ouvido, presta atenção na novela que passa na tv do salão, e seus olhos, bem, eles não param de fitar o relógio que está na parede, 15:10, 15:23, 15:34... Ainda é cedo, ainda é cedo... Olha também para o celular, verifica se tem alguma chamada perdida ou se está com sinal, está, e não nenhuma chamada não atendida. Ainda é cedo... 15:40... 15:43... Resolve deixar a bolsa aberta em seu colo, caso o celular toque, fica mais fácil para atender... "ele ainda não ligou, ele não vem..." ........ 15:46... "ainda é cedo... ainda é cedo..." 15:50, 15:54 "essas unhas que não acabam nunca!"...... 15:55......15:57... 15:58........ 15:59"finalmente estão acabando!" ............... 16:00 "é oficial, se o telefone não tocou até agora, é porque não vem mais...." Paga pelo serviço, agradece e sai.
Mesmo sabendo, porque ela sempre sabe, ainda tem esperança, "ainda é cedo", uma voz sussurra em sua mente, mas ela sabe que não... Quando o silêncio é muito grande, a ausência é certeira. Desde o dia anterior seu coração lhe avisara de que algo não estava bom, algo não estava correto. Caminha para casa olhando para os lados, quem sabe uma surpresa?!.................... Ninguém na entrada do prédio, nem no elevador. Sai em direção a sua porta desejando encontrar......... nada, não há ninguém ali, entra em casa cantando, como se estivesse realmente feliz, é mentira, a quem ela quer enganar, seu coração já está retorcido em seu peito.
Põe um filme pra roda e deita embaixo das cobertas, "quem sabe daqui a pouco...", dorme, acorda, dorme, não consegue pegar no sono pois cada barulhinho faz seu coração dar um pulo "é ele!?!"... não, não é... Ouve uma batida forte na porta, seu coração pulsa violentamente "é ele!?!" ... não, não é, é no filme... 17:00 é oficial, ele não vem mais............................... Desiste de dormir, a dor é insuportável, finge então que o filme está interessante..... 17:06... "ele não vai ligar pelo menos?..." ................ 17:13... 17:16... 17:20... "ele não vai ligar mesmo? devo ligar?"...........17:23... "quando der 17:30 eu ligo!".... 17:24... 17:25................. 17:26... "vou ligar!"........ 17:27... 17:29........... Pega o telefone e liga, caixa postal... "pode ser o sinal"... Liga de novo, caixa postal... "quem sabe no outro número"... Liga.... caixa postal...caixa postal... caixa postal... caixa postal... caixa postal... caixa postal... caixa postal... caixa postal... caixa postal... Em todos os números que ela liga, só dá caixa postal... "desligou o celular... desligou porque não quer falar comigo..." ........... caixa postal... caixa postal....... "DEIXE SEU RECADO APÓS O SINAL........... (respiração... choro...respiração... eu só queria entender...só isso...)........... Desliga. Chora. Se encolhe no canto do sofá da sala, encosta a cabeça na janela, olha para a rua e chora copiosamente, se pergunta o porquê disso, sabe que não merece, ela não entende, e chora, ela só sabe chorar, está tão cansada... Ela chora cada vez mais, seu corpo dói, sua barriga se curva como se suas entranhas quisessem sair para fora, dói muito, ela se sente abandonada. Sabe que é um exagero de sua parte, mas ela não consegue evitar, está sensível, carente, vulnerável. Sente como se estivesse em carne viva, ela se entregou, se abriu, se expôs, se arriscou, e agora paga o preço por isso, ela sabe que não deveria amar assim, mas não soube como controlar e agora chora.
Está cansada, muito cansada, não quer mais sofrer, toma uma decisão, acabar com essa coisa que a consome e a faz sofrer, não é o momento, não é a hora, não adianta ela cismar, tentar, bater o pé, não adianta querer, não é o momento, a pessoa pode ser certa, mas a hora não.
Pega seu celular, liga a câmera e grava um depoimento de despedida, ela chora e abre mais uma vez seu coração diante daquela pequena lente. Ela se despede, se declara, chora e se despede. Fica perdida, não tem coragem para enviar. O telefone toca, 18:00, diz agora que não vem... Ouvir sua voz muda a percepção de seu universo, ela fica mais confusa, mais medrosa. Se despedem, sem EU TE AMO, sem ESTOU COM SAUDADE, sem promessa de um encontro, apenas adeus. O mundo para, durante os próximo 30 minutos ela encara a tela do computador tentando decidir se manda ou não o vídeo. Resolve esfriar a cabeça antes. Escreve para um amigo, desabafa. Vai para faculdade, se ficar mais um segundo dentro do apartamento sente que irá sufocar. Aos poucos ela se acalma e toma uma decisão, precisa parar de sofrer, precisa volar a sorrir e a brilhar, seus amigos comentam que ela perdeu o brilho dos olhos... "não é o momento certo, não é, não adianta insistir...".
Vai pra casa e dorme, dorme um sono profundo, dorme a noite inteira. Hoje ela não vai acordar cedo para malhar, ela vai dormir o máximo que puder. Ela acorda, se arruma, vai para o trabalho, está triste, mas sabe o que tem que fazer, amigos, por que não? O que não dá é para continuar com algo que a faz sofrer mais do que sorrir. "não é o momento, ainda não..." Ela não pode mais esperar se nunca sabe se realmente vem. "Porque quando você fala que vem, eu espero... eu me arrumo... eu planejo... eu sonho..." Ela não quer mais esperar, melhor a surpresa do que a frustração. Não, ela quer ser feliz e vai buscar essa felicidade nem seja para arrancá-la de algum lugar com os dentes, ela vai ser feliz.
E se um dia, for a hora certa, sei lá, quem sabe, talvez ela se permita novamente... Enquanto isso, ela vai viver, vai continuar a atualizar seu email mil vezes para ver aquela letra que a faz sorrir, vai continuar a sair do elevador esperando uma visita em sua porta, vai continuar a esperar o barulho na fechadura, vai continuar a olhar pra cima procurando algo na sua janela, vai continuar a verificar as chamadas no celular...
Ela ama, sabe? Ela realmente ama, mas não é o momento certo, então ela vai esperar. Porque quando alguém diz que vem, ela espera, ela sempre espera.
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