Saíra é meu nome.Eu sou um passarinho e adoro voar. Aprendi rápido como se faz isso.
Voava alto,para todos os lados, sem nunca olhar para baixo ou para trás.
Meus pais, preocupados com minha mania de querer explorar o mundo, sempre diziam "VOU CORTAR SUAS ASAS SE NÃO SOSSEGAR". Eu nem ligava, me aquietava por um tempinho e na primeira oportunidade me jogava na imensidão do céu. Até o dia que cresci e estava forte o suficiente para buscar meu caminho. E fui. Sem medo. Levantei voo e fui.
Não tem sensação melhor do que sentir o vento entre as minhas asas e batendo na cara. Tem vezes que fecho os olhos e sigo em frente sem nem pensar para onde vou. Sou livre, tem coisa melhor do que isso? Voo para todos os lados, conheço milhares de pessoas e lugares novos, cada dia uma aventura.
Mas um dia, um moço apareceu. Ele tinha um bebedouro que espirrava uma água tão cristalina, que não consegui não me aproximar. Ele me deu a água mais pura que eu já tinha provado e os alimentos, os mais deliciosos que já encontrei. Ele me fez carinho e até cantou para mim. Virei seu passarinho, eu pousava na sua mão todas as manhãs e dormia no encosto da sua cama todas as noites. Aos pouquinhos parei de voar, e passei a viver apenas por ali, naquele pequenino lugar. Ele me levava para passear e ainda mostrava coisas bonitas, mas o céu já não era todo meu.
Só que esse moço, foi embora, e ele não poderia me levar junto. Pediu que eu voasse novamente e fosse para longe, abrisse minhas asas e voasse bem alto e prometeu que um dia voltaria, que nos veríamos de novo. Ele pendurou uma lembrança em meu pescoço, foi embora e eu caí. Eu não sabia mais como encontrar comida, me acostumara a ter a que ele me dava. Eu tinha muita sede, mas água nenhuma me saciava. Eu estava tão só e sentia muito frio. Eu tentei voar, mas não consegui ultrapassar aquele limite. Eu tentei de novo, e de novo, e de novo, bati minhas asas ferozmente, de um lado para o outro, comecei a subir, aos poucos, com força, mas sufoquei, perdi o ar, o frio tomou conta do meu corpo e paralisou minhas asas, perdi minha luz e caí. Não sei aonde estava, mas caí no cantinho de uma janela e perdi minhas consciência ali.
Era noite, estava cada vez mais frio e eu ainda não conseguia me mexer. A dor era forte demais. Eu tentei cantar, mas meu pio saiu tão baixinho e sofrido, que ninguém seria capaz de ouvir. Me encolhi o máximo que pude e torci para amanhecer logo e sol chegar. Adormeci.
Quando acordei, estava em um lugar quentinho e macio, alguém me tirou do cantinho da janela. Eu estava aquecida e consegui me levantar, mas ainda doía, minha asa quebrou na queda. De repente vi você se aproximando, você veio devagar, acho que não queria me assustar. Eu fiquei meio confusa, você nem me conhecia mas cuidou tão bem de mim... Aos pouquinhos me deu o que comer e beber, fez um curativo na minha asa e arranjou um lugar seguro para mim. Você sabia que eu ainda não tinha forças para voar, mas esperou, todo dia vinha ver como eu estava e contava histórias para me animar. Suas histórias me levavam para outros mundos e me apresentou outra forma de voar. Era bom.
Aquela noite você veio me ver, mas eu não estava mais ali. Você ficou meio confuso, mas resolveu esperar. _Ei, eu estou aqui!
Eu voava bem alto, bem alto, e piava lá de cima para você me ver e entender que finalmente eu consegui, minha asa ficou boa e eu pude voar novamente.
Desde então, todos os dias nos encontramos na sua janela, você me conta suas histórias e eu canto para você. De vez em quando você me vê voar! E esses dias, até te levei para voar comigo. Dividimos um estado de estar... E é tão bom. Você repara nas minhas penas coloridas e até ri do meu jeito desajeitado. Tem umas coisinhas que só você enxerga em mim. Ah moço, gosto de aparecer nessa sua janela!
Saíra é meu nome. Eu sou um passarinho e adoro voar! Aprendi rápido como se faz isso.
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