segunda-feira, 1 de julho de 2013

Do amor que não é meu

MAIS PALAVRAS EMPRESTADAS... UM TAPA ... UM ACORDA...

Dos amores que eu tive, revisei o teu. Revisei a amargura do paladar, coisa amarga que ia piorando cada vez mais. Espécie de comida que estraga e vai amargando, amargando e perde a validade. Daí pra frente só faz mal e intoxica. Por que eu não te joguei fora na mesma hora em que senti que era azedo?
Porque você sempre foi azedo pra mim e fui eu quem não li as informações estampadas, escancaradas na embalagem.
Do amor que não é nosso a gente só entende quando deixa molhar o rosto e salgar a língua. Mistura o sal e deixa o amargo mais temperado. A culpa é minha (por ter te consumido fora da validade) ou tua (pela exposição convidativa na vitrine)? Os malefícios foram muito além de botar tudo pra fora. E eu, que não entendia sobre amores que não são nossos, pulei da enfermaria prum divã. Doutor, eu sofro de rejeição amorosa. Mas não é rejeição.
É que um dia você acordou e teve certeza de que era outra pessoa. E não era eu. Você sentiu com alguém o que nunca sentiu comigo. E eu nunca tive a ver com isso. Por mais que o gosto batesse, o rosto batesse, tudo batesse, o sinal não tocou. E ficar por comodidade ou por afinidade nunca foi argumento bom pra justificar nenhuma sentença em tribunal. Você não seria infeliz comigo, mas deixaria de ser mais feliz ainda se não seguisse essa angústia, essa força toda que sai de dentro de você, essa parte que te puxa pra perto do outro e garante: o seu amor não era meu. Podia ser o carinho, o afago, o sexo bom que não se findava numa cama. Mas o amor, amor mesmo, não era meu.
Embora eu quisesse enjaular você e tentar domesticar esse teu amor traíra, a coisa era mais difícil do que eu imaginava. Não se comparam impressões, cheiros e todas essas coisas que te formam a imagem amorosa de alguém. Não se comparam dedicação e esforço com o acaso de esbarrar em quem se ama na rua.
Do amor que não era meu, continuo sofrendo pela exposição prolongada. Radioativo que era, abalou a minha autoestima e a percepção de inferioridade. Mas o Doutor disse que passa. Que logo mais, logo menos, eu descubro alguma coisa do amor que é meu. E que assim eu vou entender perfeitamente o que te aconteceu e o que aconteceu comigo e o que acontece com tanta gente que se encontra e desencontra por aí todos os dias em estações de trens.
Desse amor todo que não morava na minha casa, eu reviso os episódios de jantares e corridas e esforço e brigas e aperto no peito e repito: amor não é questão de mérito.

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