Tudo tão calado... Existe uma rachadura ali no canto da parede, bem no alto, e ela me olha. Observa meu andar a esmo dentro da casa, onde um dia formamos um ninho, antes da tempestade passar. Ela me encara dia e noite, onde eu vou, ela fica ali, imóvel e ao mesmo tempo tão perseguidora dos meus passos.
Tá tão frio aqui dentro... Sai fumaça gelada das minhas narinas, as juntas estão meio travadas e o olhar continua perdido. É quase como se eu ainda esperasse. Não tenho mais pelo que esperar.
A montanha russa finalmente chegou ao seu fim, ela parou de rodar, acabaram-se os 'loopings", agora a mansidão toma conta. É meio monótono admito, mas é seguro.
Eu... Aonde foi que me perdi? Como pude me afastar tanto assim de mim eu não faço ideia...
As vezes ela tenta me sugar, a rachadura. Tenta me levar para dentro dela, me persuadir a sair daqui e ir para outro lugar, novo, desconhecido, amedrontador. Eu não quero. Estou sufocando aqui as últimas gotas do nosso amor e fugir não vai aliviar a dor que sinto.
Tento olhar através dela, quem sabe me revele alguma coisa interessante. Ela se fecha, não permite um olhar mais profundo meu, não permite minha busca, não mata minha curiosidade. Aqui é tudo ou nada, ou me jogo para dentro desse novo universo, ou continuarei aqui, perdida em restos mortais de nós e congelada em repetições ilusórias de um passado que nunca existiu.
Criei um lugar dos sonhos e nele vivi o máximo que consegui. Agora aguento a realidade sufocante e ignoro a rachadura, essa que marcou o ninho, essa que fica ali para me lembrar do quanto fui feliz, do quanto me iludi, do quanto fui ingênua, e principalmente, do quanto me perdi.
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